quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Memória FC - Os dez maiores encrenqueiros do futebol brasileiro

Encrenqueiro. Segundo o dicionário Michaelis, "que, ou aquele que arma encrencas; arengueiro". O futebol brasileiro - cantado em versa e prosa como fábrica de craques - é terreno fértil na produção de primas-donas, que por sua vez servem de adubo na colheita de polêmicas (atividade-fim da imprensa brasilis?). Para o bem ou para o mal, o país contou com diversos fenômenos quando o assunto é polêmica. Algo bem-vindo (ou não) nestes tempos de assessores de imprensa e declarações insípidas. A lista a seguir levou em conta polêmica e relevância futebolística, o que consequentemente deixa de fora figurinhas fáceis como Carlos Alberto e Léo Lima.

#10 - Romário
O Baixinho acabou tendo a sua fama de encrenqueiro injustamente eclipsada pelo talento no trato com a bola. Indisciplinado desde os tempos de juniores, Romário fez um pouco de tudo. Brigas com treinadores, escapadas da concentração, trocas de socos com companheiros de time, adversários e torcedores e sacaneadas homéricas em jornalistas são alguns destaques do vasto currículo do ex-boleiro.


Romário e imprensa espancando o café pequeno



#09 - Reinaldo
Reinaldo ousou ter consciência política durante a última ditadura militar brasileira. A maneira de comemorar seus gols, como um autêntico Pantera Negra, também não era bem vista pela turma da caserna. Como consequência, o atacante foi caçado em campo sob vistas grossas dos árbitros. Após a aposentadoria, o eterno ídolo atleticano continuou frequentando as manchetes - sobretudo as policiais -, com uma condenação, em primeira instância, por tráfico de drogas.

#08 - Mario Sergio
Tido como rancoroso e mau caráter por alguns, Mario Sergio protagonizou um dos maiores escândalos de doping do futebol brasileiro, nos anos 1980. Segundo 
Dunga fontes, o Rei do Gatilho, em sua passagem pelo Internacional, conseguiu que parte do time Colorado tomasse bolinhas antes de uma partida contra o Flamengo. O caso veio à tona depois de o meia ser flagrado no antidoping, em 1984, na melhor fase de sua conturbada carreira, defendendo as cores do Palmeiras.

#07 - Flávio Costa
Existiu um técnico teimoso como Zagallo, brigão como Leão e marrento como Luxemburgo? Para quem passou dos oitenta anos, a resposta é fácil: Flávio Costa. Disciplinador e arrogante, Costa foi responsável pela saída pelos fundos de Gerson, o Canhotinha de Ouro, do Botafogo e pelo afastamento de Dida - ídolo maior de Zico - do Flamengo, entre outras confusões com craques de bola. Na caça às bruxas após a derrota na Copa de 1950, Flávio Costa, comandante da Seleção, acabou levando sua dose de culpa e aos poucos perdeu a relevância no cenário nacional.

#06 - Afonsinho
Provavelmente, Afonsinho é o mais idealista dos encrenqueiros citados. No auge da carreira, exibindo barba, madeixas e opiniões para lá de subversivas na visão de milicos e cartolas, o ex-jogador do Botafogo acabou barrado pelo visual hipponga terceiro-mundista e pela "cabeça pensante" nada bem-vinda nos Anos de Chumbo. Alijado do futebol pelos dirigentes do alvinegro carioca, Afonsinho foi pioneiro nacional na luta contra a Lei do Passe e teve a honra de ser fichado como "comunista" e "subversivo" pelo velho Serviço Nacional de Informações. Um Dom Quixote da bola num período de trevas eternizado na canção "Meio-de-campo", de Gilberto Gil (clássico na voz de Elis Regina).

#05 - Leão
Na contramão de tudo que foi escrito sobre Afonsinho, Leão ousou ser um reacionário de carteirinha dentro da Democracia Corintiana. O goleiro, já habituado ao esquemão militar, não gostava de votar nas decisões do grupo. É claro, há um plus na história: Leão era filiado à Arena - "partido" que servia de sustentação política da última ditadura militar. As encrencas do jogador não param por aí. Na decisão de terceiro lugar da Copa de 1974, contra a Polônia, chegou a dar um tapa na cara do lateral doidão Marinho Chagas, que, de acordo com o goleirão, falhou no decisivo gol de Lato. Essas e outras picuinhas sempre deram o tom na carreira de Leão, que parece não ter mudado muito.

#04 - Serginho Chulapa
O mais notório inimigo de Leão não tinha uma posição política clara. O negócio de Serginho era mesmo porrada (e valia mordida, unhada e puxão de cabelo). Péssimo perdedor, o desengonçado artilheiro chegou a partir para cima dos jornalistas após a derrota na final do Brasileiro de 1983. Para os maldosos, a personalidade de "todo estouradinho" de Chulapa pode ser explicada pelos longos anos de sofrimento com as hemorróidas. O "causo" mais delicioso da carreira de Chulapa aconteceu na decisão do Brasileirão de 1981: Leão, sabendo que o atacante são-paulino estava "armado" com um absorvente interno para conter os sangramentos no ânus, provocou o estouradinho durante os 90 minutos (com direito a xingamentos e chutinhos na bunda). Acabou levando um belo chute no rosto e ganhando um inimigo para toda a vida.



Medo! A Rede Globo tenta transformar Chulapa no inimigo público número um do desporto! Tudo isso com direito a trilha sonora de filme de terror! Ah, o jeitinho global de fazer jornalismo...

#03 - Edmundo
Edmundo é de longe o maior encrenqueiro do futebol brasileiro nos últimos 20 anos. Alternando momentos de animal e bobo da corte, foi protagonista de uma das batalhas campais mais ridículas da história do Morumbi e do nocaute mais vergonhoso do futebol mundial. Graças ao sistema jurídico brasileiro, continua livre após ser condenado por lesão corporal e homicídio culposo, consequência de um acidente automobilístico que tirou a vida de três pessoas, em 1995, no Rio de Janeiro.



Cerdeira dando uma aula de arbitragem

#02 - Heleno de Freitas
Um dos maiores ídolos do futebol brasileiro na primeira metade do século XX, Heleno de Freitas era um encrenqueiro patológico. Artífice de embates com dirigentes, adversários, companheiros e torcedores, nunca mediu palavras e gestos. Chegou a apelidar publicamente o ex-atacante Orlando Pingo de Ouro de "Orlando Pingo de Merda", numa ironia nada sutil. Jogou apenas uma vez no Maracanã, defendendo o América, o suficiente para ser expulso ainda no primeiro tempo e armar uma grande confusão com companheiros de time e jornalistas. Tanta loucura é explicada pela sífilis, que acabou por vitimar o boleiro. Merece todo o nosso respeito pelo simples fato de ter comido Eva Perón no auge do Peronismo.

#01 - Almir Pernambuquinho
"Eu fui um marginal do futebol". A autobiográfica frase de Almir Pernambuquinho resume o que foi o jogador. Com alguns "edmundos" e "simenones" de vantagem, Almir Pernambuquinho foi o grande machão do futebol nacional. Assumiu ter jogado dopado na final do Mundial Interclubes de 1963, contra o Milan, no Maracanã; promoveu uma grande algazarra com o intuito de estragar a festa do único título estadual conquistado pelo Bangu; inutilizou jogadores para o esporte e morreu à bala. A curta vida de Almir Pernambuquinho é uma epopéia trágica que merece ser lida por qualquer amante da bola.

Menção honrosa: PC Caju

3 comentários:

Anônimo disse...

Teria com dar mais detalhes dessa história do Dunga e do Mário Sérgio.

Aqui em porto alegre sempre vinculam o doping do "vesgo" à outro clube.

Douglas disse...

André,

Mario Sergio foi pego no antidoping na reta final do Paulistão de 1984, defendendo o Palmeiras. O doping foi destaque na Placar. A consequente suspensão do jogador, para muitos, foi decisiva para a perda do título - o time palestrino sobrava naquele campeonato.
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O processo por conta do doping, entretanto, estava cercado de irregularidades. A Placar - na época em que fazia bom jornalismo e Juca Kfouri não se preocupava em ser o paladino da deontologia jornalística - foi atrás de outras histórias que poderiam "incriminar" Mario Sergio. Chegaram a uma "fonte" do Internacional, que revelou que o Vesgo obrigou, na base da intimidação, alguns garotos do time a tomar bolinhas, antes de enfrentar o Flamengo, no Maracanã, em 1981 (acho que é esse o ano).
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Mario Sergio achou que essa fonte era o Dunga e nunca o perdoou por isso. Se você acompanhou a Copa de 1994 pela Bandeirantes, provavelmente notou a birra de Mario Sergio, então comentarista, com Dunga (e entre os adjetivos ao jogador estava "dedo-duro"). Para o Vesgo, até o Embu (ex-Corinthians) jogava mais bola que o capitão do tetra.
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O próprio Juca Kfouri pode dar mais detalhes sobre isso. Acredite ou não, mas ele é bem acessível apesar da falta de tempo. Como não tenho um contato dele para dar, aconselho buscar algo no blog do Juca ou coisa parecida.
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saudações

Anônimo disse...

Da história do doping no Palmeiras eu já sabia.

Ocorre que aqui no RS sempre se vincula esse doping a um possivel doping no mundial de 83:
http://gremio1983.blogspot.com/2006/05/caju-muda-livro.html