quinta-feira, 12 de março de 2009

Memória FC: Zico desmistificado

Eu poderia gastar algumas linhas rebatendo as injustas acusações contra Zico, de ser pé-frio e jogador de Maracanã, entre outras baboseiras recorrentes de torcedores ressentidos e pseudo-críticos bandeirantes. O camisa 10 da Gávea era gênio. Queiram ou não.

Apesar da genialidade, há muito lero-lero idealista em torno da carreira do Galinho. Sem falar no eterno beija-mão que a imprensa carioca dispensa ao ex-jogador.

Numa homenagem para lá de atrasada, seguem alguns fatos interessantes sobre um dos melhores boleiros de todos os tempos:


Zico em dia de Leandro Amaral
Que me desculpem os botafoguenses, mas há coisas que só acontecem com o América. Zico não defendeu o simpático clube tijucano por muito pouco. Ainda amador, jogando o fino da bola em campeonatos de futebol de salão e soçaite do subúrbio carioca, o futuro ídolo rubro-negro estava apalavrado com a cartolagem americana, após uma partida pelos infantis do clube. Eis que surge o Flamengo atravessando espetacularmente a negociação com o América. O coração rubro-negro do Galinho acabou falando mais forte.



Lusitano, sim; Vascaíno, não
O pai de Zico, o português José Antunes Coimbra, era flamenguista roxo, quase um daqueles torcedores caricatos. Nutria um ódio do Vasco devido a um trauma de juventude. Goleiro do Municipal e tricampeão da Liga Amadora, seu Antunes teve o sonho de defender as cores do Flamengo abortado por um vascaíno. Em tempos que se ganhava nenhuma mariola para jogar futebol, o pai do Galinho tirava o sustento numa padaria. Ao saber do interesse flamenguista naquele promissor goleiro, o dono da padaria, um vascaíno ferrenho, ameaçou-o de demissão. Seu Antunes acabou optando pelo trabalho. Mas a partir daí criou uma cisma peculiar com o time de São Januário. Às provocações sobre como era possível um português ser rubro-negro, José Antunes respondia, "Português é sabão e vascaíno, eu sou lusitano".


Para desespero do pai, Zico, ainda amador, chegou a cogitar a possibilidade de jogar pelo Vasco devido às dificuldades financeiras e geográficas para treinar no Flamengo. Numa época pré-Túnel Rebouças, ir de Quintino à Zona Sul do Rio despendia tempo e dinheiro. O ex-técnico do Galinho nas divisões de base do clube da Gávea, Célio de Souza, ao ser contratado pelo Vasco perguntou se o pupilo mais talentoso tinha interesse em ir para São Januário. Ao saber do convite, o dirigente flamenguista George Helal (aquele das Papeletas Amarelas), passou a bancar do próprio bolso o lanche e a ajuda de custo para o jovem craque.

Zico, o subversivo
Um dos momentos mais nebulosos na carreia de Zico é a não convocação para os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Destaque na campanha do Pré-Olímpico de 1971, na Colômbia, o Galinho acabou ficando de fora da lista de jogadores que iriam à Alemanha. As longas madeixas do jogador não eram bem vistas pelos militares que formavam a comissão técnica da antiga CBD e, para piorar a situação, os primos e um dos irmãos de Zico acabaram presos no DOI-Codi (órgão de repressão da ditadura militar brasileira). Zico pagou o pato e teve a sua maior decepção no esporte, chegando até a cogitar a possibilidade de abandonar o futebol.

Outras histórias saborosas da carreira do Galinho estão no livro Zico - 50 anos de futebol, de Roberto Assaf e Roger Garcia. Leitura recomendadíssima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quase ri com piada do padeiro