Ser preterido ou rejeitado em qualquer aspecto da vida humana não é fácil. Lidar bem com a experiência de ficar em segundo plano ou ser esquecido é uma dádiva concedida a pouquíssimos mortais. Há três tipos de reações esperadas de alguém que vive esse tipo de experiência: ser político; ser polido; ou chutar o pau da barraca. O jogador francês Vikash Dhorasoo preferiu fazer um filme.
Substitute, de 2006, retrata o inferno particular do meia na Copa do Mundo da Alemanha, onde esteve em campo por decepcionantes 16 minutos. O filme, rodado em primeira mão com a ajuda do escritor francês Fred Poulet, é um retrato da frustração, sentimento de traição e raiva crescentes do jogador, preterido a cada jogo pelo técnico francês Raymond Domenech. Dhorasoo era reserva imediato de Zinedine Zidane.
Depois do filme, Dhorasoo foi tratado como traidor pelos companheiros de equipe
(Divulgação)
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A experiência amarga vivida pelo projeto francês de cineasta é algo costumeiro na Seleção Brasileira. A cada Copa do Mundo sempre há um ou dois nomes injustiçados, que ficam de fora ou, se convocados, viram meras testemunhas oculares do maior evento do futebol mundial. Situação mais frustrante do que a de Dhorasoo, por vezes, já que nem sempre o preterido tem à frente alguém com o prestígio de Zidane. Num exercício de cultura inútil, a lista dos boleiros mais injustiçados é de qualidade. E olha que muita gente boa - mais uma vez - foi esquecida.
#10 - Edmundo
Apesar de jamais ter feito uma atuação redentora ostentando a camisa da Seleção e da temporada de altos e baixos na Fiorentina, Edmundo acabou recompensado com a convocação para a Copa da França após o impressionante 1997, comandando o ataque vascaíno. Mesmo com a saída de Romário, cortado por uma contusão controversa, Animal ficou na reserva, preterido por um Bebeto em fase descendente e pelo fraco Denílson. Para piorar, quando teve sua chance de ouro, ao substituir Bebeto no segundo tempo, contra Marrocos, o Animal errou tudo que tentou, protagonizando lances bisonhos e abaixo da crítica. O pior estava por vir: teve a chance de ouro de ser titular na grande final diante da França tirada de suas mãos já no vestiário, após o misterioso problema de Ronaldo Nazário. Pelo menos conseguiu entrar no segundo tempo e assistir de perto um dos maiores vexames do Brasil em Copas.
#09 - Julinho Botelho
O bonachão técnico Vicente Feola quando perguntado sobre quem era melhor, Garrincha ou Julinho Botelho, não titubeava: Julinho era melhor. O forte caráter do ponta da Fiorentina, cujo apelido escondia os 1,80 metros de bela estirpe futebolístca, fez com que renunciasse à convocação para a Seleção que iria à Suécia, na Copa de 1958, por não concordar em tirar a vaga de jogadores que atuavam no Brasil. Acabou cortado pelas próprias convicções. Sentiu pouco mais tarde, entretanto, o gosto amargo da rejeição, ao ouvir em maio de 1959 um Maracanã lotado o vaiando, num amistoso contra a Inglaterra. O motivo? Garrincha, a alegria do povo e um dos heróis da Copa, estava no banco de reservas, preterido por Julinho. O ex-jogador da Portuguesa deixou de lado os gritos por Mané e as lágrimas que ameaçavam cair, resolvendo mostrar no "couro" que não estava em campo por acaso. Com menos de dez minutos de jogo, o ponta fez dois gols que selaram placar definitivo daquele encontro, transformando vaias em aplausos e escrevendo uma das mais deliciosas histórias do ludopédio tupiniquim.
#08 - Emerson Leão
Titular em dois mundiais e integrante do elenco de 1970, Emerson Leão foi um dos melhores goleiros já revelados em solo brasileiro. Seguro, às vezes brilhante e outras tantas polêmico, o arqueiro colecionou ao longo da carreira admiradores e desafetos com a mesma facilidade. A personalidade polêmica ia de encontro ao jeitão desconfiado de Telê Santana, fechado com jogadores que eram a antítese perfeita do goleiro, como Sócrates. Curiosamente, tão logo Telê assumiu o comando da equipe brasileira, Leão se viu preterido nas escalações do novo técnico. De titular absoluto até o fim de 1979, com Cláudio Coutinho, jamais conseguiu encabeçar a lista de titulares, enquanto Valdir Peres, João Leite e Raul Plassmann, entre outros nomes menos cotados tiveram seus momentos na primeira Era Telê. Leão não. E mesmo tido como o melhor goleiro do país por muitos, acabou ficando de fora daquele time mágico da Copa de 1982, uma mágoa que nem a convocação para a Copa seguinte, com o mesmo Telê, curou.
#07 - Renato Gaúcho
Renato nunca teve muita sorte em Mundiais. Na Itália, em 1990, sob comando de Sebastião Lazaroni, jogou poucos minutos antes do apito final na fatídica partida contra a Argentina, no melhor estilo "resolver aí, meu craque". A maior frustração do carismático jogador, no entanto, aconteceu quatro anos antes, na Copa do México. Considerado uma das peças fundamentais na campanha das Eliminatórias, Renato Gaúcho acabou cortado por um caso de indisciplina que rende até hoje. Com Renato "voando", Telê acabou trocando o polêmico craque pelo jovem Müller, do São Paulo. Acabou por deixar uma ponta de dúvida se a Seleção Brasileira teria sorte melhor naquele mundial.
#06 - Neto
As escolhas de Sebastião Lazaroni para a Copa de 1990 não agradaram aos críticos brasileiros, sobretudo a imprensa paulista. A mídia bandeirante, há algumas décadas com certo poder da barganha na reivindicação de seus prediletos para a posição de goleiro, teve de engolir a seco a convocação dos discutíveis arqueiros Zé Carlos (Flamengo) e Acácio (Vasco da Gama). Para completar a cariocada, o técnico ousou deixar Neto de fora do Mundial da Itália. O meia, que vivia a melhor fase de sua carreira, no Corinthians, viu o sonho de jogar uma Copa do Mundo arruinado com outra convocação bastante discutida do outro lado da Rodovia Dutra, a da promessa vascaína Bismarck, que fez grande Campeonato Brasileiro em 1989, mas jamais alcançou o nível esperado.
#05 - Djalma Dias
Zagueiro de técnica refinada, Djalma Dias roeu o osso, mas ficou de fora na hora do filé. Após participar de todos os jogos das Eliminatórias da Copa de 1970, o pai de Djalminha inexplicavelmente foi cortado da lista de atletas que viajariam ao México. Pior do que ficar de fora pela segunda vez consecutiva de um Mundial, só mesmo constatar que foi relegado por beques bem menos técnicos, como Brito, Joel, Fontana e Baldocchi. Apesar da exuberância do meio-de-campo para frente, Zagallo teve alguns problemas para arrumar a cozinha brasileira, tanto que recorreu ao sempre competente cruzeirense Wilson Piazza, originalmente um volante, para jogar na zaga.
#04 - Ronaldo Nazário
Por mais estranho que possa parecer, Ronaldo Nazário de certa forma também foi um injustiçado em Copas do Mundo. Ainda garoto e jogando uma bola redonda no Cruzeiro, havia algo de supersticioso na convocação daquele menino, que chegava ao seu primeiro Mundial, em 1994, com apenas 17 anos. Quem sabe, tal qual Pelé, na Suécia, não seria o protagonista de uma nova redenção brasileira, que há 24 anos amargava seguidos insucessos? Para desespero dos supersticiosos, Ronaldo não jogou um minuto sequer na Copa dos EUA. Se, na época, Bebeto e Romário eram incontestáveis e insubstituíveis, pouca gente ficou sem entender como até o discutido Paulo Sérgio teve seus minutinhos de bola em jogo naquele Mundial, enquanto o futuro Fenômeno apenas fez turismo na América do Norte.
#03 - Alex
Nome quase certo na convocação dos jogadores que iriam à Copa de 2002, Alex foi inexplicavelmente esquecido por Felipão, técnico parceiro num passado de sucesso no Palmeiras. Rescaldado pela decepção de quatro anos antes, Alex novamente ficou de fora do grupo que iria ao Mundial da Alemanha, após ser figurinha fácil em diversas convocações de Parreira ao longo da preparação daquela equipe. Acabou preterido por Ricardinho, que, apesar de ser um bom jogador, está longe de ser o Zidane que a imprensa tentou por anos a fio fazer acreditar.
#02 - Falcão
Cláudio Coutinho dirigiu a Seleção Brasileira mais confusa da história recente dos Mundiais, em 1978. Um dos ícones do futebol moderno no país, introdutor de uma série de termos e conceitos importados, como overlapping, Método Cooper, ponto futuro e polivalência, Coutinho antagonicamente deixou fora da Copa da Argentina o jogador brasileiro que à época era a mais completa tradução de modernidade: Paulo Roberto Falcão. E, para piorar, trocou a técnica refinada do meio-de-campo do Internacional pelo limitado Chicão. Cada Copa do Mundo tem os craques que merece.
#01 - Ademir da Guia
Dono do meio-de-campo da Academia de Futebol que dominou os gramados no fim da década de 1960, Ademir da Guia sempre foi preterido por diversos técnicos que passaram pela Seleção Brasileira. O jogo mágico do esguio Palmeirense concorreu com jogadores do peso, como Gerson e Rivellino, ao longo dos anos, mas enfim conseguiu uma merecida convocação, para o Mundial de 1974. A participação de Ademir naquela Copa se resumiu a pouco mais de um tempo de jogo, para tristeza dos amantes do bom futebol. À parte os delírios paulistas sobre cariocadas da antiga CBD, a bola saiu perdendo.
3 comentários:
o mais injusticao vai ser a populacao brasileira que vaiassistir a cvopa de 2014 nam maioria das vezes pela tv pois ir aos jogos custara um preco inacessivel a 90%da populacao....o triste e cruel divisao economica desta nacao....
Faltou o Dirceu Lopes
A Copa de 90 foi uma piada, e uma prova incontestada da carioquice que é a nossa seleção, além de Neto, outros dois que mereciam estar la em Veloso do Palmeiras e Julio Cesar do Guarani.
Mais triste e saber que esta palhaçada se repetiu nas copas seguintes
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