segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Memória FC - Paulo Valentim


Nascido no berço da contravenção de Barra do Piraí, município do Sul Fluminense, Paulo Valentim (1932-1984) teve uma rica história dentro e fora dos gramados. Ídolo no Boca Juniors, pouco lembrado pelas torcidas botafoguense e atleticana, o jogador destacava-se pelo apurado faro de gol, boa colocação na pequena área e uma incorrigível vida boêmia.

A atração pela noite e pelo copo foi determinante para que seu pai, Quim Valentim, ex-jogador do Atlético Mineiro e bicheiro maior da cidade barrense, mandasse o filho de mala e cuia rumo a Belo Horizonte. Paulinho, que já chamara atenção jogando pelo Central de Barra do Piraí em amistosos contra equipes de Juiz de Fora, acabou contratado pelo Galo Mineiro. Em Minas Gerais, Paulo Valentim conquistou títulos, marcou gols e arrebatou o coração da prostituta Hilda Furacão - talvez a primeira WAG brasileira.

Hilda Furacão e Paulo Valentim estiveram juntos até a morte. Esperava a Ana Paula Arósio?

O sucesso, no entanto, não foi suficiente para manter o artilheiro no Atlético. Incomodados com a fama de habitué da noite, os dirigentes acabaram negociando o craque com o Botafogo. No alvinegro carioca, Paulo Valentim teve uma passagem marcante, sendo figura principal do título carioca de 1957. O Fluminense, favorito para conquistar a taça naquele ano, acabou caindo ante ao Botafogo, numa espetacular goleada de 6 a 2, com direito a cinco gols de Valentim, para delírio das arquibancadas botafoguenses, devidamente reforçadas por torcedores do Flamengo, Vasco e América - irritadiços com as declarações provocativas de cartolas tricolores. (Sim, o Flamengo já fez parte da torcida arco-íris).



O sucesso no alvinegro resultou numa inevitável - e curta - passagem pela Seleção Brasileira, durante o Campeonato Sul-Americano de 1959, disputado na Argentina. Alternando entre o time titular e o banco de reservas, o atacante marcou três gols na virada brasileira diante do Uruguai, numa partida marcada pela violência, como mandava o receituário dos bons tempos de sangue, suor e futebol. A atuação do brasileiro chamou atenção dos dirigentes do Boca Juniors, que não mediram esforços na aquisição daquele avante brigador, em plena era do "Fútbol Espectáculo", período histórico da década de 1960 marcado pela gastança de dinheiro e importação de craques na Argentina.

O investimento em Valentim valeu a pena. Em quase cinco anos vestindo o manto azul y oro, o boleiro tornou-se o maior artilheiro da história do Superclásico, diante do River Plate, com dez gols. O seu momento de maior destaque na epopéia bostera foi no clássico decisivo de 1962. Faltando apenas uma rodada para terminar o campeonato e com um ponto de desvantagem em relação ao River, o lema para o xeneizes era vencer ou vencer. Tudo corria conforme o script após o gol de pênalti convertido por Valentim, até que, faltando três minutos para o término da partida, o árbitro marca uma penalidade polêmica a favor do River.



Com os jogadores do Boca visivelmente nervosos, Valentim resolveu fazer uma promessa ali mesmo: se o goleiro Antonio Roma defendesse o tiro cobrado pelo brasileiro Delém, faria uma peregrinação da sua casa até a famosa igreja de San Ignacio de Loyola, em Buenos Aires, e daria uma bela quantia em dinheiro (10 mil pesos, na época) ao primeiro miserável que cruzasse o seu caminho. Os deuses do futebol ouviram as preces de Paulinho. Numa defesa tão ou mais polêmica que a marcação da penalidade, o antológico Roma defende o chute de Delém graças a uma adiantada espetacular.



Na manhã seguinte, lá estava Paulo Valentim a cumprir sua promessa. Reconhecido e saudado nas ruas pelos torcedores do Boca, a peregrinação seguia ganhando adesões. Chegando à igreja, saudado e abraçado pelos xeneizes, que enlouquecidos celebravam seu herói, o atacante foi interrompido por uma senhora pobre que esmolava nas proximidades. Sem titubear, Valentim deu um pacote com 10 mil pesos para a pedinte, que, assustada ou não acreditando no presente recebido, simplesmente saiu em fuga com a dinheirama em mãos.

A mística e as glórias, no entanto, não foram suficientes para o jogador ter um doce fim de carreira. Com os anos e o corpo cobrando noitadas e bebedeiras ininterruptas, o fogo do artilheiro foi se apagando até aposentar-se quase anonimamente no México. A vida pós-futebol incluiu um emprego no cais do porto e uma série de insucessos financeiros. Com ajuda de amigos, conseguiu passagens para voltar a Buenos Aires, onde sonhava trabalhar como técnico de futebol. Seis anos após chegar à capital argentina, Valentim sucumbia diante do insucesso e do alcoolismo, em situação de extrema pobreza, em 1984.

Fontes de pesquisa e imagens:

Blog do Roberto Porto (AQUI e AQUI)
Informe Xeneize

3 comentários:

Lobotomia disse...

Parabéns meu caro! Belo trabalho de pesquisa, a vida de Paulo Valentim merecia uma filme.

Douglas disse...

Puro ctrl+c e ctrl+v. Mas acho que isso é "pesquisar", não é? rsrsrsrs

R disse...

Matéria sobre Paulo Valentim:
http://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/atletico-mg/2012/04/19/noticia_atletico_mg,214883/valentim-da-gloria-ao-drama.shtml